Meu vizinho Alexandre Borges afirmou semana passada que parte da mídia trabalha para derrubar Temer porque Lula teria mais chances de voltar à presidência por eleições indiretas, e não pelo voto popular. Discordo. Não só Lula não se candidataria agora como tem uma minoria na Câmara. E os deputados do centrão não gostariam de voltar a 2016 elegendo alguém que agravaria a crise econômica e a crise política.
Uma possibilidade é escolherem um decano, alguém capaz de pacificar os ânimos e pôr ordem na casa – o ministro Henrique Meirelles, por exemplo. Seria o pior nome para o PT, para Jair Bolsonaro e os demais candidatos à presidência em 2018. A vitória pavimentaria o caminho de Meirelles à eleição direta.
A eleição de um Meirelles ou um João Doria seria um golpe de sorte para o Brasil. Mas não convém confiar no Brasil e nos nossos deputados. Será que o eleito por eles seria alguém imune a delações premiadas e com vontade e força política para aprovar a reforma da Previdência? Não sabemos.
Por isso tenho minhas dúvidas de que a renúncia de Michel Temer acabará com a crise política. Também porque ninguém sabe muito bem como será a eleição indireta. Prevista na Constituição, ela nunca foi detalhada por uma lei ordinária. Não se sabe, por exemplo, se políticos que ocupam cargos poderão participar (em eleições comuns, eles precisam se afastar do cargo meses antes da eleição). Haveria conflitos entre os deputados sobre pontos da eleição, e o STF teria que definir o formato do pleito.
Enquanto isso, a votação da reforma da Previdência será empurrada para 2018.
por Leandro Narloch
Nenhum comentário:
Postar um comentário