A dimensão continental do Brasil faz dele um país com diversos “micro países” em seu território. A lógica se encaixa à perfeição no atual cenário da epidemia do novo coronavírus. Algumas regiões podem ter realidades completamente diferentes. Neste quesito, o Nordeste chama muito a atenção por ter maior heterogeneidade entre os estados.
Após uma fase mais dramática, com capitais como Fortaleza e Recife com alto número de casos já no início do ano, a média móvel de novos casos e óbitos por coronavírus se estabilizou, em comparação com os dados de duas semanas atrás. Por outro lado, enquanto alguns estados e principalmente capitais já podem respirar mais aliviados, outros começam a enfrentar a ascensão da epidemia.
A disparidade era esperada e é normal. “Não há uma única explicação. Vários fatores contribuem para essa característica como o comportamento do vírus em si, que tende a migrar em ondas para locais onde tem pessoas suscetíveis; os cuidados que as pessoas de cada local tomam, as medidas de distanciamento e flexibilização adotadas pelos governantes, a capacidade do sistema de saúde e a questão política que, no Brasil, desempenha um papel muito forte no desfecho dessa epidemia”, explica o epidemiologista e infectologista Bruno Scarpellini, da PUC do Rio de Janeiro.
Desde o começo da pandemia, Fortaleza e Recife, por exemplo, começaram a ver a curva de infectados aumentar em um período semelhante ao de capitais de outras regiões como São Paulo e Manaus. Hoje, essas cidades começam a respirar.
Nesta quarta-feira, 15, a média móvel de óbitos em Fortaleza nos últimos sete dias chegou a 14, quase quatro vezes menor do que a taxa registrada no dia 15 de junho, quanto bateu 53,7. No mesmo período, a capital cearense também apresentou melhora significativa no número de casos: a taxa desta quarta-feira é de 129, contra 451 há um mês.
Após medidas rígidas de distanciamento que ajudaram a conter a epidemia, Fortaleza avançou na flexibilização e retomada da economia. A cidade, que chegou a instituir lockdown por algumas semanas, permitiu nesta semana a reabertura das barracas de praia no horário de almoço.
Já em Recife, a média móvel de óbitos nos últimos sete dias chegou a 10. A redução em relação à taxa registrada em 15 de junho, quando bateu em 38,3 de média móvel, foi semelhante à de Fortaleza. Por outro lado, no mesmo período, a média móvel de casos da capital pernambucana aumentou ligeiramente, saindo de 185,1 em 15 de junho para 191,6 nesta quarta-feira, 15. Mesmo assim, como a vizinha cearense, Recife permitiu a reabertura dos quiosques na praia, da feirinha de artesanato e autorizou o banho de mar em áreas seguras.
Salvador, que recentemente se tornou um novo centro do estudo fase 3 da vacina de Oxford no Brasil, também apresenta redução de novos óbitos e casos de Covid-19. A média móvel desta quarta-feira para óbitos na cidade é de 16,7, contra 18,6 há um mês. Já os casos caíram de 616,4 para 523,9.
Por outro lado, Aracaju, João Pessoa e Natal, veem o número de mortes aumentando. A média móvel de óbitos nos últimos sete dias nesta capitais chegou a 8,6, 12,7 e 8,3, respectivamente, nesta quarta-feira. No dia 15 do mês passado, as taxas eram 6,7 em Aracaju, 6,6 em João Pessoa e 6,3 em Natal.
“A tragédia existiu de forma diferente em algumas cidades. Salvador, por exemplo, assim como São Paulo, conseguiu achatar a curva. Platô significa achatamento, pois se tem platô, não tem pico e a epidemia é melhor controlada”, diz o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz.
Atualmente, a maioria dos estados do Nordeste – Alagoas, Ceará, Paraíba, Maranhão e Pernambuco – apresenta estabilização na média móvel de novos casos e mortes por Covid-19 em comparação com duas semanas trás. Entre os quatro restantes, Bahia e Rio Grande do Norte estão em queda em número de novas infecções. Mas apenas o Rio Grande do Norte apresenta queda nas mortes. Na Bahia, a situação é considerada estável.
Por outro lado, Sergipe e Piauí destoam dos bons resultados de seus vizinhos e apresentam alta nos dois índices. Um dos fatores que podem explicar esse fenômeno é que a epidemia nestes estados ganhou força apenas em meados de maio, disparando no início de junho. Ou seja, mais de um mês depois dos demais estados da região.
“As diferenças estão associadas ao trânsito de pessoas de outros países e estados”, explica o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz. “Fortaleza, por exemplo, tem mais conexões com a Europa do que Recife e Salvador. Por isso, no Nordeste, o vírus foi introduzido lá primeiro. Logo apos essa primeira onda, onde teve essa introdução do vírus, o deslocamento diminuiu, o que de certa forma atrasou a interiorização da epidemia.”
Brasil
Nesta quarta-feira, 15, o Brasil registrou uma média móvel de novos casos de coronavírus de 36.226,9, um número estável em relação aos dados das últimas duas semanas. Por outro lado, a média móvel de óbitos preocupa. O novo índice foi de 1057,4, o segundo maior de toda a pandemia, o que indica que as mortes estão crescendo no país. O recorde foi no dia 23 de junho: 1057,7. A data também marcou o período com mais óbitos em 24 horas até aqui, com 1.374 mortes.
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