Felipe Salustino
Repórter
As conexões fotovoltaicas no Rio Grande do Norte atingiram a marca de 22.078 novos sistemas entre janeiro e setembro de 2024, um recorde histórico que supera a quantidade de unidades contabilizadas anualmente desde 2015. Até então, o melhor desempenho havia sido registrado nos 12 meses de 2022, com 19.613 novas conexões. Os dados são do Observatório da Energia Solar, produzido pela Associação Potiguar de Energias Renováveis (Aper-RN) com a JVilar Consultoria e indicam que, no acumulado da série iniciada em 2015, o Estado soma 78.501 unidades. O número é 345 vezes maior do que o do começo da contagem, quando havia 64 sistemas conectados.
Ainda no acumulado da série histórica, o RN registra atualmente 737.484,72 quilowatts-pico (kWp) de potência instalada até setembro de 2024. Até 2015, eram 1.022,72 kWp. Considerando-se apenas o recorte entre janeiro e setembro deste ano, são 176.686,62 kWp, desempenho inferior somente aos 12 meses de 2022 (com 177.910,38 kWp) e de 2023 (179.052,10 kWp). O Observatório utiliza como base dados da Aneel. Williman Oliveira, presidente da Aper, avalia que a busca por autossuficiência energética e os custos cada vez mais em conta para o consumidor, têm estimulado o uso de sistemas fotovoltaicos.
“Os gastos com energia representam um dos maiores impactos financeiros para a população, mas, no caso da geração solar, os preços caíram muito e isso é um facilitador. E o RN possui inúmeros fatores que se juntam a isso, como um patamar de radiação solar excelente. Temos um sol abundante, então, é preciso aproveitar essa riqueza natural. Os números do Observatório são um reflexo dos investimentos e do desejo por autonomia energética”, afirma Oliveira.
José Maria Vilar, da JVilar, pontua que os números superaram as expectativas mais otimistas e reforça que ainda existe muito mercado para a expansão do setor. “Seguramente pode-se afirmar que, de forma geral, ainda há um amplo espaço para crescimento, considerando que a quantidade total de conexões à rede elétrica ainda é proporcionalmente muito pequena em relação ao total de domicílios de cada município, em torno de 6%, em média”, analisa Vilar.
De acordo com os dados, considerando apenas o mês de setembro de 2024, o RN contabilizou 2.389 novas conexões, distribuídas entre 153 municípios. Williman Oliveira, da Aper, afirma que, para pensar em expansão, é preciso olhar, também, para as realidades regionais “A grande maioria das cidades potiguares hoje tem pelo menos uma usina instalada, mas o crescimento do setor tem a ver também com a economia de cada localidade”, pondera.
“Um crescimento maior ou menor em cada município irá depender de ações mercadológicas das empresas e de eventuais benefícios fiscais que cada cidade venha a oferecer para incentivar o uso dessa tecnologia”, aponta José Maria Vilar. Oliveira, por sua vez, ressalta que, em função disso, a contribuição das empresas no sentido de tornar a matriz energética mais acessível é primordial. “A gente espera que as concessionárias continuem oferecendo boas oportunidades para o consumidor poder montar os próprios sistemas”, diz.
Natal lidera número de instalações
Com um acumulado de 15.520 sistemas instalados e 140.750,79 kWp até setembro deste ano, Natal está na dianteira entre os 10 municípios do Rio Grande do Norte com maiores índices de distribuição de energia solar. Mossoró (com 13.558 unidades e 114.071,72 kWp), Parnamirim (com 9.228 sistemas e 68.616,36 kWp) e Caicó (com 2.785 conexões e 26.654,65 kWp) vêm em seguida no ranking. Os 10 principais municípios, pelo critério de quantidade de sistemas instalados, respondem por 64,7% da quantidade de conexões e 59,6% da potência instalada no Estado, no acumulado até setembro de 2024.
O número de conexões já instaladas representa 6,9% da quantidade de domicílios existentes no RN em 2022. Nos nove primeiros meses do ano, o Rio Grande do Norte apresentou um crescimento de 39,1% em relação a igual período do ano passado, referente à quantidade de sistemas e à capacidade instalada. O índice é superior aos observados no Brasil (27,2%) e no Nordeste (28,8%). Estima-se que a atividade gere atualmente cerca de 5 mil empregos diretos no Estado.
O consumo residencial é quem lidera a distribuição por classe no RN, com 65.536 unidades conectadas (85,3% do total) e 413.096,73 quilowatts-pico (56% de toda a potência instalada). O consumo comercial responde por 12,6% das conexões, com 9.901 unidades e 228.346,03 kWp (23% da potência instalada). O consumo rural, com 2.407 unidades, equivale a 3,1% da geração distribuída, com 40.901,37 kWp, equivalente a 5,5% de potência instalada. No Nordeste, de acordo com o Observatório, no acumulado até setembro de 2024, são 627.804 sistemas conectados, com 6.472.759,93 kWp, enquanto que em todo o País, são 2.935.062 unidades, que somam 32.770.953,08 kWp de potência.
A professora e empresária Rosimar Nunes, de 47 anos, instalou placas na própria residência e na escola em que é proprietária, em Nova Parnamirim, no final de 2019. Ela cita que a busca por economia e por uma fonte energética sustentável fizeram com que ela optasse pelo uso de energia solar. “À época, nosso consumo de eletricidade ficava em torno de R$ 1,5 mil por mês. Financiei um sistema fotovoltaico em 60 parcelas de R$ 1,6 mil, que já terminei de pagar, e agora a gente produz nossa própria energia, ao mesmo tempo que mantém o consumo em patamar igual”, relata Rosimar.
“É um investimento que vale a pena. Já quitamos o financiamento, então, hoje usufruímos apenas dos benefícios”, acrescenta. A aposentada Maria das Graças, de 71 anos, aderiu ao uso de energia solar há dois anos. A economia é a principal vantagem, na avaliação dela. “Considero que o preço do sistema em si foi caro – custou R$ 13 mil –, mas a economia depois compensa porque já está tudo pago. Na época da mudança, eu estava pagando cerca de R$ 300 por mês de energia elétrica. Agora, só me preocupo com a manutenção, que custou R$ 200 da última vez que eu fiz, mais em conta do que o que eu pagava mensalmente para ter eletricidade”, conta.
As vantagens destacadas pelos usuários animam o setor, que espera manter os índices de expansão para o final deste ano, bem como para 2025. O Observatório da Energia Solar estima que, com base na média mensal instalada nos nove primeiros meses, 2024 poderá a superar 2023 na quantidade de novas conexões em cerca de 60%. Para o último trimestre deste ano, segundo Williman Oliveira, presidente da Aper, o setor deve crescer até 20%. “Essa tendência é baseada no aumento de calor registrado nesta época e ao conforto de ter a própria energia”, analisa. Além disso, enfatiza, neste período as distribuidoras costumam oferecer preços mais competitivos, ao mesmo tempo em que os bancos disponibilizam melhores condições de financiamento.Regulamentação é desafio para o setor
A regulamentação ainda significa um desafio para um melhor desempenho do setor, na avaliação das fontes ouvidas pela reportagem. Williman Oliveira, presidente da Associação Potiguar de Energias Renováveis (Aper-RN), diz que as perspectivas para 2025 seguem a tendência de crescimento já observada, mas aponta a necessidade de dispositivos que garantam maior segurança para os usuários. “Temos discutido em Brasília a Medida Provisória (MP) nº 624, que oferece garantias ao consumidor quanto ao uso de energias renováveis”, explica.
A MP em questão determina que as distribuidoras de energia devem atender às solicitações de acesso de unidade consumidora com microgeração ou minigeração sem restringir ou limitar a injeção de energia proveniente de microgeração distribuída na rede. Só poderão ocorrer limitações ou restrições à conexão da minigeração se a distribuidora apresentar estudos técnicos com demonstrações de “distúrbios” que a conexão possa gerar à rede. O trecho atende, sobretudo, a um pleito do segmento de energia solar fotovoltaica.
“É preciso um ambiente regulatório favorável, ou que, pelo menos, não venha a apresentar obstáculos de ordem legal”, comenta José Maria Vilar, da consultoria Jvilar. “Essa medida é importantíssima, mas o Governo também precisa fazer sua parte, no sentido de retirar de pauta a criação de possíveis novos encargos a fim de evitar o encarecimento do produto, que já chegou a um patamar muito interessante para o consumidor final”, complementa Williman Oliveira.
Tribuna do Norte
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